terça-feira, 8 de julho de 2008

Passo o dia inteiro fazendo coisas que eu não queria fazer.

São 3 tipos de caras: os conformados, os hipócritas e os "pseudorebeldes"¹.


Após anos de estudo pelos ensinos, fundamental, médio e superior. Hoje acordo, tomo banho, visto-me, tomo café, falo com a família e lá vou eu em direção ao trabalho, pego aquele trânsito nosso de cada dia, então chego finalmente; lá encontro o que não queria encontrar. Olho para todos os lados e só vejo o que não queria ver, pessoas vidradas em suas mesas suando por coisas que não são suas, esperando apenas por um salário; aquela coisa que vem lá daquele negocio de sistema capitalista.

Agora chega a hora do almoço, vou deixar de ver um pouco aquelas caras "bufadas", desço as escadas como um louco para respirar um pouco de ar puro da grande cidade que me espera lá fora; e qual não foi a minha surpresa ao puxar o ar, e perceber que talvez precisasse de um galão de oxigênio, havia me esquecido de como era o mundo do lado de fora do escritório. Identifico ao outro lado da rua aquele rapaz que todos os dias vende salgadinhos, juro que pensei em almoçar, contudo, temos apenas uma hora para o almoço o tempo cada vez mais me toma. Atravessei a rua e fui ao encontro do rapaz, pedi a ele uma coxinha com suco de maracujá para ver se meus ânimos se acalmavam (doce ilusão), terminei de comer, paguei o que devia, olhei para o relógio e já era hora.

O segundo turno do dia é sempre o pior e o melhor, pior porque você já trabalhou no primeiro turno a manhã toda;
(se puder imagine que o cansaço é um bravo e sanguinário guerreiro, e que ele nunca terá piedade de você), entretanto, é o melhor porque o dia de trabalho já está chegando ao fim.
Durante o caminhar desse segundo turno entre um flerte e outro com a nova estagiária, minha mesa se encheu de papeis! O susto foi tamanho, que o pouco café que existia em meu copo sobre a mesa foi parar no chão com a movimentação involuntária causada pelo susto; minhas mãos foram à cabeça por saber que teria de terminar de verificar todos aqueles papeis até o final do expediente; e não mais que de repente, vinha mais uma vez meu chefe me cobrando efusivamente o término de um trabalho do dia anterior, eu não tinha forma melhor de responder a ele do que com um leve balançar negativo de cabeça.

Para dar uma luz ao final do meu dia de trabalho, a estagiária veio falar comigo, ela era alta, ruiva, meiga e usava um vestido que mostrava suas lindas pernas, queria saber onde ficava a copa queria pegar um café, ela parecia estar um pouco cansada da noite anterior, pensei. Mostrei então a ela onde a copa ficava, ela pegou seu café e ficamos conversando durante alguns minutos, até que fomos interrompidos pelo horário do final do expediente que chegava; nossa conversa ficaria para outro dia.

Comecei a juntar minhas coisas na pasta para ir embora, olho no relógio. É hora do engarrafamento. Apresso-me o máximo que posso ao descer as escadas para pegar meu ônibus a tempo de não entrar no maldito engarrafamento, chegando no ponto lotado vejo meu ônibus ao longe, pulo então até o meio fio para ter a certeza que o motorista irá conseguir me ver; para minha sorte eu tinha conseguido chegar a tempo de não haver engarrafamento, mas para o meu azar o ônibus estava lotado (sovacos ao vento meu caro, ao vento !), esgueirando-me entre os perfumes paraguaios, as sacolas de compra, e os fechadores de passagem, consegui um lugar em pé na parte da frente do ônibus. Essa é também além do próprio fato se trabalhar uma das piores partes de se ser um trabalhador com remuneração relativamente média, ter que pegar ônibus extremamente lotados em horários de pico, mas o que se à de fazer?

Chegar em casa depois de um dia desses é o maior dos merecimentos, pois agora eu vou comer, tomar um banho e ir dormir para amanhã, acordar, tomar banho, vestir-me, tomar café, falar com a família e ir em direção ao trabalho, pegar aquele trânsito...

Quem sabe no final disso tudo, eu possa um dia alimentar a minha alma que todos os dias chega em casa murcha seca, sem a água da vida; com um curso de teatro, formando a minha banda , sendo um "rock star", ou quem sabe virando hippie; largar essa vida pré fabricada que eu e mais milhões de caras levam, chamar aquela garota do trabalho pra sair, poder ser e fazer o meu sistema, o sistema humano, nem democrata, comunista ou socialista.

Desculpem-me os conformados e os "pseudorebeldes", mas sou um hipócrita assumido, esperando a hora do bote.

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