Há um tempo que venho percebendo algo estranho com o meu supervisor no trabalho, uma coisa diferente no olhar, um olhar que ao mesmo tempo vê tudo e não vê nada, eu me perguntava se aquilo seria paranóia da minha cabeça. Hoje eu descobri a resposta para isso.
Hoje durante a manhã como de costume cheguei e logo fui ao encontro dele para pegar as chaves do laboratório, tudo parecia normal, menos aquele pesar no olhar, troquei algumas palavras com ele e fui começar a trabalhar. Logo no meio da manhã senti sede, então sai para procurar um bebedouro e encher meu copo, ao longe ouvi o meu supervisor falando alto com alguns funcionários, o que era extremamente estranho, fui chegando mais perto para ver o que estava acontecendo e o vi muito afobado, perguntei a ele com quem deveria deixar as chaves quando eu fosse embora, ele chamou o funcionário e me disse que eu deveria entregá-las a ele. Fomos andando pelo mesmo caminho, ele para ir embora e eu para voltar ao trabalho, na bifurcação de nossos caminhos ele me disse que estava saindo por que iria levar a filhinha de poucos anos ao medico para fazer uns exames; conseqüência de um sopro no coração; foi ai que ao terminar de falar e já saindo ele fez um gesto com o peso de mil palavras; foi uma mistura de batida de coração com sopro, dizendo que ia embora e não voltava mais. Depois daquilo voltei ao trabalho muito perturbado; aquele homem forte nos pensamentos e certo das coisas que fazia parecia ter perdido o chão completamente, sua filhinha pequena não estava bem e precisava dele.
O resto da manhã para mim foi pensando nesse ocorrido, imaginando aquela velha premissa da fragilidade humana; somos pequenos, somos fracos para o mundo, apesar de sermos muitas vezes fortes para nós mesmos, mas para o todo somos algo tão pequeno que ás vezes tenho até medo, não o medo de ser perene de voltar ao pó ou medo das coisas materiais, mas sim o medo das coisas que não se pode ver, como aquilo que o meu supervisor estava sentindo por vários dias por causa da filhinha, sentir aquilo deve doer tanto quanto sofrer um ataque do coração ou levar uma facada. Pergunto-me muito se sentir esses sentimentos é uma dádiva ou uma maldição que essa criancinha levada chamada Deus nos deu, tenho medo dos vivos, não dos mortos.
Não tenho medo das coisas que vejo, tenho das que não vejo.
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